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Dr. Martin Harris


Dr. Martin Harris, Diretor de Informática, Cleveland Clinic, EUA, fala sobre os benefícios clínicos da TI Saúde.

A TI desempenha um importante papel em nossa capacidade de definir e, por fim, atingir os objetivos que definimos para nós mesmos. Martin Harris, julho 2015

 

HIMSS Latin America (HLA): Você pode compartilhar conosco um ponto de vista interno sobre as estratégias que permeiam a adoção da tecnologia da informação de saúde na Cleveland Clinic?

Dr. Martin Harris (DMH): Na Cleveland Clinic, nossa principal filosofia e nosso foco comum é o fornecimento de cuidados de saúde da mais alta qualidade a todos os pacientes que confiam sua saúde, ou a saúde de um ente querido, aos nossos cuidados. Dessa forma, todas as estratégias clínicas e de negócios que desenvolvemos devem nos ajudar a atingir esse objetivo da melhor forma possível. Nos últimos anos, temos focado cada vez mais não apenas em aumentar a qualidade dos cuidados que fornecemos, mas também em maximizar o valor que os pacientes e clientes recebem, garantindo que nossos cuidados sejam mais acessíveis e mais econômicos com o passar do tempo. Devido à habilidade de os sistemas de tecnologia de informação analisarem grandes quantidades de dados relacionados ao contato, bem como de conectarem, de maneira segura, as equipes de cuidados clínicos e seus pacientes, a TI desempenha um importante papel em nossa capacidade de definir e, por fim, atingir os objetivos que definimos para nós mesmos.

Dentro de nosso hospital, a Cleveland Clinic vem aumentando sua eficácia e diminuindo as despesas utilizando sistemas de pedido de suprimentos e de rastreamento automatizados, incluindo robôs totalmente autônomos que recebem e preenchem pedidos de suprimentos médicos 24 horas por dia. Estes sistemas diminuem nosso tempo de execução de serviço e liberam nossos provedores de cuidados para dedicar mais tempo a seus pacientes, e menos tempo realizando tarefas administrativas.

HLA: De que formas podemos melhorar os cuidados de saúde nas áreas rurais da América Latina?

DMH: A tecnologia da informação tem um grande potencial de conectar as pessoas que vivem em zonas rurais com o tipo de serviços de cuidados de saúde de que elas necessitam. Mas, para fornecer a promessa da TI para servir tais áreas, primeiro é preciso estabelecer algum nível de infraestrutura.

Infraestrutura on-line
A tecnologia da informação pode ser muito útil oferecendo serviços que podem conectar pacientes e médicos especializados entre longas distâncias, sem que nenhum dos dois precise viajar para interagir clinicamente.

Monitoramento contínuo
Conforme os dispositivos médicos vão se tornando mais disponíveis e acessíveis, o monitoramento pode ser feito remotamente por meio de conexões telefônicas. É o poder da tecnologia da informação que torna possível que um computador classifique, dentre faixas de valores, e informe o médico quais pacientes estão bem e quais precisam de uma consulta.

HLA: Qual é a última inovação em TI que está ocorrendo na Cleveland Clinic?

DMH: Na verdade, se possível, eu gostaria de mencionar duas inovações: uma para pacientes hospitalizados e a outra para pacientes ambulatoriais.

Para provedores de saúde
Em nossas unidades de tratamento intensivo, estamos trabalhando na ideia de um monitoramento abrangente que utilize o poder do computador para alertar os médicos quando houver a necessidade de cuidados imediatos. Usando esse tipo de tecnologia, podemos ajudar para que os cuidados com a saúde fiquem mais acessíveis, diminuindo o tempo necessário para se iniciar importantes intervenções médicas, aumentando a probabilidade de o paciente se recuperar mais rapidamente, permitindo que ele seja transferido a uma unidade de cuidados menos intensiva e, assim, mais barata.

Para nossos cuidadores
Nós criamos um aplicativo para smartphone que essencialmente torna o registro médico eletrônico (RME) acessível a médicos em qualquer local, sem que eles precisem se conectar a um computador. Nosso aplicativo utiliza os recursos de segurança do telefone e mantém o médico conectado no sistema de modo contínuo.

HLA: O que você irá abranger durante sua apresentação na Conferência Latino-Americana da HIMSS?

DMH:
a) Na primeira parte da minha apresentação, irei compartilhar algumas de minhas observações sobre o real valor da tecnologia da informação integrada na área da saúde como um sistema por meio do qual os provedores de cuidados podem oferecer cuidados de alta qualidade por um custo eficaz.

b) Em segundo lugar, irei discutir a abrangência das ferramentas de TI saúde que serão necessárias para realizar nossa promessa de cuidados acessíveis, econômicos e de alta qualidade para todos os pacientes.

c) E por fim, unirei essas ideias por meio do acompanhamento real de um paciente por um ciclo de cuidados possibilitado pela TI saúde.


Dr. Donald Kosiak


Dr. Donald Kosiak, Diretor Médico Executivo da Avera Health, EUA, fala sobre Telemedicina.

A Avera presta serviços de telemedicina para uma área de quase 900 mil quilômetros quadrados atualmente, com planos de dobrar a área de cobertura ao longo dos próximos 2 anos.

 

HIMSS América Latina (HLA): O senhor pode compartilhar conosco algumas percepções sobre os avanços tecnológicos e as inovações mais recentes em assistência à saúde domiciliar da Avera Health? 

Dr. Donald Kosiak (DK): A Avera eCARE se concentrou largamente nas práticas clínicas e hospitalares da medicina no espaço da telemedicina nas duas primeiras décadas de existência. Começamos a articular domicílios e locais não tradicionais nos últimos anos. Um exemplo é o coaching em saúde, que utiliza aplicativos móveis para atingir as metas de saúde para obesidade e diabetes. Outro exemplo é o uso de aplicativos diretos ao consumidor para necessidades de atendimento de urgência a partir de qualquer dispositivo com base na Web ou aplicativo móvel. Além disso, começamos a prestar assistência em ambientes não tradicionais, como visitas de enfermagem nas escolas por meio de telemedicina para ajudar a apoiar a administração local. 

Começamos também a desenvolver uma equipe de transição para nos concentrarmos nos membros mais vulneráveis da nossa população, os idosos. Criamos uma equipe de geriatras, farmacêuticos, clínicos e enfermeiros para facilitar a transição do hospital para o domicílio, especialmente quando o domicílio é uma unidade de enfermagem qualificada ou unidade de assistência de longo prazo. Isso nos permite administrar mais estreitamente suas necessidades imediatas com uma equipe de assistência especializada para mantê-los saudáveis e fora do hospital. Chamamos o programa de eLTC. O eLTC conecta os residentes de assistência de longo prazo aos prestadores de serviços do hospital virtual Avera eCARE usando uma tecnologia de telemedicina audiovisual e bidirecional. Com a ajuda do pessoal da unidade, o eLTC pode avaliar com precisão as condições dos residentes a centenas de quilômetros de distância. 

HLA: O senhor pode compartilhar conosco alguns dos principais desafios encontrados em programas de telemedicina? 

DK: A telemedicina tem sido uma ótima ferramenta para o cuidado dos pacientes. A Avera está envolvida nesse espaço desde o início da década de 1990. Isso nos possibilitou encontrar muitas “melhores práticas” desde os anos de teste. O maior desafio, surpreendentemente, não é a tecnologia. Hoje, nós nos conectamos com pessoas do mundo todo sem muito pensar. O maior desafio é a gestão da mudança, ou seja, ajudar os pacientes e profissionais de saúde a aprender a fazer coisas de maneiras novas e inovadoras. O segundo maior desafio é o licenciamento e credenciamento dos profissionais da área médica quando eles começam a atravessar as fronteiras. O processo de enfrentar os desafios regulatórios da prática médica enquanto amplia-se a plataforma de telemedicina certamente limitou sua adaptação e seus casos de uso. 

HLA: Reconhecendo a proporção elevada de áreas rurais na América Latina, quais são algumas das estratégias de TI comprovadas que o senhor acredita podem ajudar a América Latina a prestar assistência à saúde de alta qualidade para todos? 

DK: A Avera começou na telemedicina muitos anos atrás por causa dos desafios de cuidar dos nossos pacientes rurais. As grandes distâncias entre os hospitais e especialistas começaram a afetar a qualidade do atendimento que poderia ser oferecido. A Avera decidiu que a geografia não deveria ditar a qualidade do atendimento ou o acesso aos profissionais da área médica. A telemedicina foi uma das ferramentas a apoiar essa meta. 

A Avera presta serviços de telemedicina para uma área de quase 900 mil quilômetros quadrados atualmente, com planos de dobrar a área de cobertura ao longo dos próximos 24 meses. Isso nos impõe vários desafios para alcançar as áreas rurais e fronteiriças. Prestamos serviços para alguns dos pacientes mais graves de UTI e pronto atendimento nessa grande área. Apoiamos o profissional da área médica local com planos de assistência e planejamento logístico. Fazemos isso por meio de unidades fixas e móveis localizadas nos estabelecimentos médicos. Apoiamos ainda muitas clínicas rurais, proporcionando consultas com médicos especialistas na comunidade em que os pacientes residem, visando eliminar algumas das viagens necessárias para prestar assistência especializada e avançada. Finalmente, temos ofertas diretas ao consumidor que permitem a qualquer paciente com um navegador de Internet ou smartphone acessar um profissional da área médica "sob demanda" para questões de menor urgência. 

HLA: Do que o senhor vai tratar durante sua apresentação na Conferência Latino-Americana da HIMSS? 

DK: Em primeiro lugar, gostaria de agradecer à HIMSS América Latina pelo convite. Vou discutir os vários casos de uso e as melhores práticas da telemedicina que desenvolvemos em todo o mundo. Vou compartilhar algumas armadilhas e sucessos comuns que podem ser enfrentados no início e no desenvolvimento de um programa de telemedicina. Vou falar sobre o impacto financeiro e clínico desses programas. Finalmente, vou falar sobre os usos futuros da telemedicina que estão logo além do horizonte. 


Dr. Robert Schumacher


Se aplicarmos ferramentas como o Modelo de maturidade de usabilidade da HIMSS (Healthcare Information and Management Systems Society, HIMSS) como medida da situação atual das coisas, creio que descobriríamos que temos um longo caminho pela frente.

 

HIMSS América Latina (HLA): como a experiência do usuário (user experience, UX) está evoluindo na HIT?

Dr. Robert Schumacher (RS): as forças de mercado fazem com que os fornecedores de HIT se concentrem na entrega de funcionalidade, frequentemente em detrimento da usabilidade. O maior perigo é que muitos fornecedores de HIT acreditam que realmente estão fazendo um ótimo trabalho quanto à experiência dos usuários. Muitos fornecedores associam o aprimoramento de UX com a realização de portabilidade do sistema de registro eletrônico de saúde (electronic health record, EHR) para um iPad, por exemplo. Se aplicarmos ferramentas como o Modelo de maturidade de usabilidade da HIMSS como medida da situação atual das coisas, creio que descobriríamos que temos um longo caminho pela frente. Com algumas exceções, os fornecedores de HIT não abraçaram verdadeiramente uma cultura de experiência do usuário.

HLA: quais são alguns dos problemas que impactam a usabilidade do EHR?

RS: EHRs são sistemas inerentemente complexos e repletos de recursos. Projetar sistemas que tentem reduzir essa complexidade inerente é muito difícil. É necessário haver uma combinação de recursos organizacionais (isto é, dinheiro), além de design thinking. Outros fatores importantes, para além da complexidade do domínio, são: um grande número de grupos de usuários; importantes requisitos técnicos, de segurança, regulatórios e de privacidade. Sendo assim, ainda precisamos compreender corretamente os fundamentos de design de interface do usuário (User Interface, UI) e de UX. Não há desculpas para alguns dos designs desleixados (e perigosos) que vemos atualmente.

HLA: o senhor pode compartilhar algumas percepções sobre como escolher um sistema de EHR que os profissionais de saúde possam usar?

RS: um aspecto frequentemente ignorado é que um dos componentes mais caros de qualquer aplicativo corporativo (como um EHR) é o custo do capital humano. Ou seja, as pessoas levam tempo para inserir dados e processá-los. Tornar esse esforço o mais eficiente e eficaz possível deveria ser um objetivo equivalente a garantir segurança, privacidade, interoperabilidade e conformidade regulatória. Há maneiras sistemáticas de medir o desempenho humano, e esses métodos deveriam ser empregados na escolha de um EHR.

Outro custo oculto que merece ser levado em consideração durante a escolha é a segurança do aplicativo. Qual é o custo do erro humano? Ao avaliar a segurança em dispositivos médicos, por exemplo, é empregada a Análise dos modos de falha e seus efeitos (Failure Mode Effects Analysis, FMEA) para compreender os riscos. Por que não realizar a FMEA ao considerar EHRs? Os perfis de risco de diferentes sistemas podem variar consideravelmente.

O verdadeiro paradoxo aqui é que, na maior parte das pesquisas que avaliam a satisfação dos médicos, a usabilidade aparece como um dos pontos mais delicados. Entretanto, quando averiguamos se a usabilidade está entre os critérios de seleção para adquirir um EHR, ela frequentemente não está. Assim, a não ser que levemos a usabilidade a sério durante a escolha, não devemos nos surpreender que ela esteja faltando no aplicativo.

HLA: o senhor pode compartilhar algumas percepções em termos do quanto uma usabilidade insatisfatória pode impactar negativamente pacientes e provedores?

RS: há muitos exemplos de problemas de pacientes que resultam de uma usabilidade insatisfatória. Coisas simples como fazer os usuários informarem unidades de medida (p. ex., kg ou lb) ao mencionarem o peso para dosagem pediátrica provocaram verdadeiras tragédias quando não havia segurança suficiente. E tais casos não são isolados. É difícil saber a verdadeira incidência de importantes erros de usuários induzidos por sistemas. As pessoas não relatam problemas.

Há outras implicações da usabilidade insatisfatória que afetam provedores e instituições. A usabilidade insatisfatória resulta em mais trabalho, mais esforço por parte de todos. Muitos médicos contam que dedicam uma hora extra todos os dias para manter os registros atualizados e abranger a mesma carga de pacientes.

Evidentemente, nem tudo é ruim. Também há benefícios significativos. Precisamos ter em mente que nosso objetivo é tornar os sistemas seguros e eficientes. Isso demanda esforços não apenas dos fornecedores; os usuários também precisam se responsabilizar pelo aprendizado. Um EHR não é um caixa automático. Para dominar o sistema, não necessários verdadeiros esforços. Dito isso, tudo deveria ser feito para proporcionar uma melhor experiência do usuário com uma curva de aprendizado o mais suave possível.

HLA: O que você irá abranger durante sua apresentação na Conferência Latino-Americana da HIMSS?

RS: minha apresentação irá ao cerne do que define experiência do usuário e usabilidade. Eu também pretendo destacar o fato de que prestar atenção na experiência do usuário é fundamental para o sucesso. Finalmente, falarei sobre algumas ações que integrantes da plateia poderão realizar para exercer um impacto positivo sobre seus usuários.